Um olhar diferente sobre a saúde mental, a psicomotricidade e a psicologia

A psicomotricidade e a psicologia.

A psicomotricidade e a psicologia.

Um homem novo, em relação diferente com a velocidade, o tempo, criando pequenas redes de composição de saúde.

Um homem novo que busca uma nova saúde, em relação diferente também com seu corpo, um corpo mais expressivo, que quebra a ideia de um organismo pasteurizado.

Um homem novo, com um olhar diferente, mais apurado, mais singular.

Uma ciência? Sim, uma ciência, porque tem que ter estatuto, tem que ter uma função.

Mas uma ciência que até hoje não foi entendida, aqui no Brasil, como profissão.

Outros países, como Argentina, Itália, França, Uruguai, já consideram os psicomotricistas — pessoas que levam adiante esses conceitos — como profissionais independentes.

A amplitude do olhar seria o tom diferente.

Esta ciência que hoje busca se instituir, criar um campo de afirmação política, econômica e jurídica porque quer ampliar seu campo de atuação.

E que vem conquistando, cada vez mais, um lugar de potência entre pessoas que pensam e querem um mundo mais sustentável.

É que para se promover, de fato, uma mudança no modelo que vivemos, estes profissionais acreditam que precisamos de pessoas mais conectadas com seu corpo, com uma relação mais sensível com o meio ambiente e aos códigos externos, menos egoístas, sem achar que o mundo é aquilo que elas querem que ele seja.

Conversei longamente com o psicomotricista Luiz Gustavo Vasconcellos, vice-presidente da Associação Brasileira de Psicomotricidade, para entender a proposta:

A psicomotricidade tem um olhar muito original, ela amplia a percepção da singularidade das crianças, vê o corpo além do organismo, ampliando o psiquismo. 

O psicomotricista que trabalha com crianças entende que algumas podem ter limitações não por problemas orgânicos, mas pela complexidade de sua existência.

O trabalho do psicomotricista é uma busca teórica e prática, que cativa a gente porque marca a diferença – disse ele.

Quem fortaleceu o conceito de psicomotricidade aqui no Brasil foi o francês Andres Lapierre, teórico que tem vários livros com outro estudioso, Aucouturier. 

Em 2005 foi criado um projeto de lei visando à regulamentação da profissão do psicomotricista, mas o projeto foi barrado.

A alegação é que, assim como a psicopedagogia, a psicomotricidade também seria uma especialização da psicologia.

Questões de interpretação jurídica que vêm limitando a atuação das pessoas que querem fazer dela uma profissão, como já acontece em outros países.

A psicomotricidade vem ganhando força na educação infantil justamente porque tem esse olhar diferente, mais singular, sem impor uma educação diretiva.

É um olhar que entende o desenvolvimento da criança e cria um espaço criativo e materiais que estimulam esse desenvolvimento – disse ele.

Na prática

Na prática, é mais ou menos assim: o psicomotricista, ao dar uma bola ou um arco ou um pano para uma criança brincar também vai dar espaço para que o pequeno crie brincadeiras com esses materiais, sem impor nenhum movimento para conseguir qualidades. 

O psicomotricista acredita que a criança tem capacidades intrínsecas. Para estes profissionais, dominar com palavras de ordem é despotencializar.

O cérebro de uma criança pequena é pré-operatório, não tem muito essas funções cognitivas organizadas.

Se as regras são impostas, ela estará fazendo um esforço incoerente num período em que ela tem mais é que se aventurar e adquirir confiança, sentimentos mais interativos, ser mais dona de seu próprio corpo.

Cada processo de desenvolvimento da criança é visto pelo psicomotricista com delicadeza e muita, muita atenção. 

Ele é operador do afeto, mas o afeto aqui não é afetividade, é um grau de intensidade com o qual cada criança estabelece – disse Luiz Gustavo.

Fundada em 1980, a Associação Brasileira de Psicomotricidade criou um conceito para explicar seu modo de cuidar.

Para ela, trata-se da “ciência que tem como objeto de estudo o corpo em movimento nas suas relações com o mundo interno e externo…”

Há vários cursos, entidades dedicadas a formar psicomotricistas, que oferecem um jeito diferente de perceber a saúde.

Um jeito mais sustentável?

Sim, se a gente entende que pessoas mais conectadas com o próprio corpo são mais sensíveis aos sintomas e, assim, talvez adoeçam menos, o que pode reduzir os gastos com o sistema público de saúde.

Luiz Gustavo chama a atenção para a necessidade de se inventar “novos corpos” e desconstrói a teoria, já quase globalizada, de que o cérebro da atualidade é mais aprisionado porque tem muitos apelos:

A gente precisa deixar de pensar e agir no mundo como ele já não é mais. Hoje o corpo e o cérebro estão livres para criar porque as máquinas estão fazendo o trabalho mental e braçal. 

Minha filha, por exemplo, usa relógio só como artefato, ela pode ver as horas em tantos lugares diferentes.

Você se lembra como nós gastávamos tempo aprendendo a ver horas?

Teclar, outra coisa que a gente aprendia em escola específica, a datilografia.

Agora, qualquer criança pequena já sai teclando – disse ele.

Novos tempos, novas funções para o corpo. E a psicomotricidade, como não é uma ciência exata, também tem seus ramos e movimentos.

Uma grande parte acredita que o maior problema, a maior doença, surge quando o homem se isola. Em relação e contato ele conseguiria criar soluções e ir em frente.

Neste sentido, a formação das cidades pode ter colaborado para o cenário cada vez mais instigante que se vê nas novas tecnologias.

Ao mesmo tempo, o excesso de compreensão e entendimentos globalizados pode resultar também na falência das singularidades, ter como resultado tantas angústias, indelicadezas, isolamentos, ânsia vazia e necessidade de “ser feliz” a qualquer preço.

Não diria que a psicomotricidade é a solução para estes sintomas, porque não acho que exista uma única solução.

Mas gosto muito da ideia de ter, em volta de mim, pessoas que possam perceber melhor e ter mais atenção à própria vida sem esperar um futuro melhor para cuidar de coisas.

Este já pode ser um primeiro passo para que se possa livrar de um cansaço profundo que às vezes se instala e nos deixa assim meio letárgicos, sem a potência necessária para brigar contra o “business as usual”, querendo consumir para ser feliz.

Conheça também: Curso Online de Psicomotricidade

Fonte: http://g1.globo.com/nova-etica-social/platb/2013/09/04/um-olhar-diferente-sobre-a-saude/