A engenharia sustentável não é um novo ramo da engenharia.
Tampouco, ao contrário do que muitos pensam, se restringe às definições mais simplistas relacionadas a temas ambientais.
Claro que para a engenharia o meio ambiente é um elemento fundamental da equação, seja neste planeta ou em qualquer outro.
Na engenharia, a técnica sustentada na ciência não pode, na prática, ser implementada de forma desconectada da viabilidade econômica que, por sua vez, afeta e é diretamente afetada pelo ambiental, o qual não se pode efetivamente preservar sem levar em conta a sustentabilidade social.
Esta última inexoravelmente ligada a valores e à cultura.
A boa engenharia sustentável
A boa engenharia, por sua vez, se refere à eficiência e eficácia da aplicação da ciência para a melhoria da condição humana.
Em outras palavras, estamos falando de efetividade (que é igual à eficiência + eficácia) do engenho humano na solução de problemas.
Isso está na essência da própria engenharia e é transversal e basilar a todas as suas inúmeras especialidades.
E está também intrinsecamente relacionada ao conceito de Engenharia de Valor (Value Engineering) sobre o qual já comentamos aqui em artigo recente.
À medida que progredimos como civilização fica evidente que a efetividade verdadeira só existe em um contexto de sustentabilidade.
Isto não é mais um conceito passageiro.
É o futuro da engenharia aplicada e que, quando analisamos de uma maneira mais profunda, sempre esteve, está e sempre estará na essência do que realmente significa a própria engenharia.
E, acredite o leitor, isso não é uma discussão de Eco Chatos sobre uma temática Bio Desagradável.
Estas são questões de ordem prática com profundas implicações de ordem prática.
Não é possível se pensar, por exemplo, no chamado ambiente construído (Built Environment) sem ter como base de tudo a bacia hidrográfica.
Sem água simplesmente não existe civilização. Seca e desolação caminham juntas.
Pior que a falta de água só a falta de ar e aqui, mais uma vez, estamos falando da imensa responsabilidade da Engenharia Sustentável como princípio técnico e científico, mas, antes disso, como princípio ético e valor moral.
Neste contexto não é difícil compreender que compliance e gestão competente e responsável de projetos são também elementos essenciais dos conceitos e princípios da sustentabilidade.
Mas, se tudo isso, à medida que começamos a refletir sobre o tema, salta aos olhos como uma realidade e valores evidentes por si mesmos, porque então este foco na Engenharia Sustentável não tem sido mais proeminente há mais tempo?
Bom, é claro que nosso raciocínio não pode estar desconectado do progresso humano científico e civilizatório; da compressão maior do todo que leva a uma visão mais holística da sociedade e da engenharia na solução de problemas e na melhoria do bem estar do homem.
Mas no contexto da realidade de recursos limitados, que sempre desafiará o engenho humano, existe um dos pilares da Engenharia Sustentável que é um caminho crítico para sua realização.
No mundo real, e por consequência no mundo da engenharia, não se pode negligenciar ou subestimar o pilar econômico e financeiro da Engenharia Sustentável.
Apesar de todas as suas falhas e limitações, algumas obviamente graves, nenhum sistema criou tanta riqueza para a humanidade e foi tão eficiente até agora na alocação de recursos como o sistema liberal baseado no mercado e na liberdade.
Aqui está o maior desafio da Engenharia Sustentável.
Encontrar o caminho do meio.
Conciliar os legítimos interesses econômicos com os valores humanos compreendidos aqui em sua mais nobre concepção e interpretação.
Está além do escopo deste breve texto abordar, por exemplo, as diversas técnicas de pesquisa operacional (programação dinâmica, algoritmos genéticos, etc.) na busca pela otimização na alocação de recursos e pelo estado da arte da Engenharia Sustentável, lançando mão dos cada vez mais poderosos recursos computacionais.
Mas podemos tratar aqui, para efeito de ilustração, sobre um dos caminhos que pode trazer uma solução para esta conciliação em muitos desafios da Engenharia Sustentável.
Este caminho passa de uma maneira genérica por conectar o projeto de engenharia, por exemplo, de infraestrutura, ao ciclo de vida do empreendimento.
Em outras palavras, ligar a implantação dos projetos à responsabilidade por sua operação ao longo de sua vida útil e aos benefícios e ônus econômicos e financeiros decorrentes destas empreitadas.
Aqui a engenharia está inexoravelmente ligada ao ambiente jurídico institucional e a imensa importância, dentre outras, da legislação ambiental.
O modelo, também já tratado aqui em artigos anteriores, é o da parceria entre os setores publico e privado.
Para o leitor que tiver um pouco mais de interesse técnico tomo novamente a liberdade de indicar, para facilidade de referência, o tema de Value for Money, que apresenta o racional do processo de escolha para empreitadas de concessões e PPPs .
Finalmente, para vencer os desafios da Engenharia Sustentável, é preciso humildade e reconhecer a sua complexidade.
Se fosse fácil estaríamos todos andando de carros elétricos e não movidos a combustíveis fosseis. Não teríamos problemas de água.
Questões ligadas à energia costumam ter desdobramentos geopolíticos em escala global.
A exploração do gás de xisto nos EUA, por exemplo, levou à política agressiva dos preços de petróleo por parte da Arábia Saudita, com grande impacto em todo o mundo.
Muitas foram as consequências para toda a indústria de energias alternativas e renováveis, para a importantíssima indústria química e mesmo para algumas fronteiras na exploração de óleo e gás como o pré-sal brasileiro.
Existe ainda o desafio do imponderável humano.
Mais uma vez para ilustrar, é com grande preocupação e consternação que vemos as intenções de se alterar a legislação brasileira que regulamenta a concessão de licenças ambientais.
Sob o pretexto de gerar investimentos e empregos de curto prazo políticos populistas associados a culturas empresariais de pouquíssima nobreza escondem interesses e valores inconfessáveis em detrimento de toda uma nação e seu patrimônio humano, econômico, ambiental, social e cultural.
O primeiro passo para vencer tudo isso é termos consciência destas questões. A Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE) fará a sua parte.
*José Antônio de Sousa Neto: Professor da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE). PhD em Accounting and Finance pela University of Birmingham no Reino Unido.
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Fonte: http://domtotal.com/noticia/1072910/2016/10/o-maior-desafio-da-engenharia-sustentavel/